Como falar (ou não) sobre os seus transtornos psicológicos

Transtornos psicológicos: quero/não quero conversar, e agora?

Hoje eu quero tirar o peso da conversa sobre os transtornos psicológicos das suas costas. Falar sobre o que nos machuca é sempre difícil. As vezes, você não quer falar sobre o que está sentindo, mas ninguém te entende. As vezes, você quer falar com alguém, mas ninguém te entende. Bom, os seus problemas não acabaram, mas eu aprendi que a gente pode mandar na nossa própria boca, e a gente pode escolher com quem a nossa boca fala. É isso mesmo: você não  tem  que desabafar. Você  pode  desabafar. Fica aqui, que eu te explico.

moça jovem de cabelos longos, ondulados e castanhos, pele branca, olhos castanhos e camiseta preta, com expressão nervosa
Conversar sobre transtornos psicológicos pode ser uma tarefa difícil, tanto para quem fala, quanto para quem escuta. Foto de @ospanali no Unsplash.

Desencontros de informações acontecem o tempo todo. Afinal de contas, não existe transmissão de pensamentos em full HD e legendado em português (ainda). 

Eu ficava muito frustrada quando não era levada a sério, quando eu dizia que não queria falar com ninguém, e continuavam me importunando.

Ou quando eu falava com alguém, e era como se o meu sofrimento só causasse dor para outras pessoas, e eu que ficasse sofrendo sozinha mesmo.

"- Mas e o seu namorado?"

"- Mas e o seu trabalho?"

"- Mas e o seu cachorro?"

"- Mas e a sua calcinha?"

Como se o que era importante pra mim, fosse mais importante do que eu mesma.

Sim, eu sei que queriam me ajudar. Mas ao mesmo tempo, precisavam me respeitar.

homem de cabelos castanhos e presos, usa óculos de armação preta, veste casaco jeans azul e faz gesto de concordância com a cabeça
Mesmo sem intenção, quando me comparavam às coisas que eu tinha, ou às pessoas a quem eu amava, era como se tudo ao meu redor fosse muito valioso, mas eu mesma, não valia nada.

Eu não estou dizendo que eu estava certa, e muito menos que esse é o seu caso.

O que quero que entenda é como uma pessoa pode ser atingida com as palavras. E que a sua dor não deve ser menos respeitada do que a dor do outro.

" -Tá, falar agora é fácil. Mas o que eu faço?"

Aí é que está a primeira lição: você precisa fazer alguma coisa? Você sente mesmo que precisa falar sobre as suas dores? Ou faz isso porque outra pessoa te disse para fazer?

Perceba que a dor é sua, e você é quem escolhe o que fazer com ela. Então, começamos por aí.

Falar ou não falar? Quem decide é (sempre) você.

Mas, e aí? Falar ou não falar sobre isso?

Quem decide é (sempre) você.

Se você não consegue lidar muito bem com o assunto, se tudo ainda for muito novo pra você, muito desconfortável, não precisa seguir o conselho da sua amiga, e "desabafar".

É claro que, se isso te faz se sentir melhor, ou se isso for recomendado por um profissional, você pode descarregar tudo que tiver na sua carroça.

O importante aqui é usar o seu super poder interno, chamado "decisão".

Sim, você tem o poder da decisão!

Se você se sente mal em compartilhar o que sente, carregue o poder da decisão com todas as suas forças para dizer "- Eu não quero falar sobre isso.".

Personagem de série da Netflix: Stranger Things, pré adolescente, com peruca de cabelos louros e ondulados, vestido cor de rosa, aparece com olhar forte para a câmera, passa a mão sobre o rosto e dá as costas

No começo, talvez (ou com certeza) alguém fique chateado ou chateada com você, mas explique que está fazendo isso pelo bem da sua própria cachola, e que vocês podem conversar sobre outras coisas.

Deixe para bater esse papo na psicoterapia, onde o profissional vai te ajudar com o que precisa, e todas as suas palavras serão ouvidas.

Mas se quer muito falar sobre o que sente com as pessoas mais próximas a você, tenha em mente que existe a possibilidade dessas pessoas não saberem sobre o que você está falando.

Não pense que todas elas fazem por mal. As vezes, pode ser que ninguém nunca tentou tocar nesse assunto com elas antes.

E essas pessoas não vão mudar de uma hora para outra, mas elas têm que te respeitar sempre.

Respeite os seus limites - se ninguém respeita eles, você respeita por eles.

Eu detesto minhas limitações. A minha terapia é bem intensa e cansativa. Sinto falta de ficar até horas da noite com meus amigos, amo trocar o dia pela noite. Mas não posso fazer nada disso. Pelo bem do meu tratamento.

É, essas coisas podem ser um saco no começo. Mas tudo é questão de prioridade.

Eu poderia escolher fazer todas essas coisas que eu queria. Mas hoje sei que o meu Eu do futuro merece fazer muito mais do que isso.
mulher de pele branca, cabelos louros, veste blusa cinza de mangas compridas, faz gesto com as mãos, indicando pedido ao leitor, expressa a palavra em inglês "please" (por favor) para a câmera
Eu me sentia incapacitada e tinha muita vergonha quando tinha que pedir para meus amigos pararem de falar sobre algum assunto, ou quando tive que parar de trabalhar pra me tratar.

Foi então que eu percebi que atropelar os meus limites só me fazia ficar mais limitada.

Tudo ficou mais fácil e mais claro, quando parei de odiar os meus limites, e passei a escutá-los.

Não precisa se sentir azarada ou azarado por ter limites. Todos têm limites, não é exclusividade sua, cada um tem o seu.

Limite é que nem digital, cada um tem a sua. (Há! Achou que eu ia dizer o quê?).
duas crianças estão uma ao lado da outra, a criança da direita tem pele clara, cabelos louros e veste blusa de mangas compridas, tem olhar de discordância com a criança que está ao lado esquerdo, que tem pele clara, cabelos castanhos e cacheados, veste camiseta azul escuro e dá gargalhadas
Os nossos limites são parte da gente, fazem parte da nossa história e nos dizem quando recalcular a rota.

Ao invés de querer brigar com seus limites, é preciso entender o que eles precisam para serem tratados, ou se eles não poderão ser curados - nesse caso, você vai precisar aprender como contorná-los.

Não se culpe, as pessoas só não sabem mesmo.

Não, você não tem que abrir sua vida, como eu fiz com a minha. Apenas tenha noção de que, como já mencionei aqui, cuidar da saúde mental pode ser algo novo pra muita gente.

Eu já fui muito questionada sobre os meus sintomas.

" - O que te impede de trabalhar?"
"- Você só dorme!"
"- Por que não faz alguma coisa?"
E muito mais.
atriz, compositora e rapper norte americana, jovem adulta de descendência asiática, cabelos castanhos ondulados, Awkwafina aparece segurando um pepino como se fosse um telefone, e faz expressão de apatia e faz gestos, chacoalhando a mão direita, indicando incômodo
Mas eu percebo que, até eu começar a me tratar, eu também não sabia as respostas para essas perguntas.

Até hoje, eu continuo sem saber muita coisa sobre eu mesma, mas sei que tudo tem um, ou vários motivos. 

Eu só descobri tanto, porque escolhi encarar meu tratamento. Se eu não tivesse começado essa jornada, eu jamais me entenderia da mesma forma que me entendo hoje.

Então esse vácuo de informações sobre as nossas cabeças não estava somente nos outros. Eu também tinha essa falta de informação.

Cuidar da nossa saúde mental, infelizmente, não faz parte da nossa rotina habitual.

Eu quero muito que isso mude algum dia. Mas, enquanto isso, tenha em mente que você é quem mais importa nessa conversa.

Pra mim, fazer com que a saúde mental seja falada é uma missão diária. Mas eu só comecei a fazer isso quando me senti pronta pra esse desafio.

Ou seja, a pessoa que mais tem que entender o que está acontecendo com você, é você mesma ou você mesmo.
mulher preta de cabelos castanhos escuros e crespos sorri e expressa acolhimento ao leitor, aponta a mão esquerda para a câmera

Existem pessoas que te entendem.

" - Poxa, depois de toda essa bad, ainda há esperança?"

Opa! Bad vibes? Nada disso!

Eu não quero que você pense que este post tem objetivo de fazer você não falar, ou falar menos, sobre o que acontece dentro de você. Pelo contrário, quero tornar esse processo de conversar sobre seus sentimentos, mais leve.
Personagem da série da Netflix: Atypical, jovem adolescente de pele clara, cabelos e olhos castanhos, veste camiseta vermelha com estampa branca, faz gestos com os braços e com as mãos, indicando intenção de acalmar o leitor

Já te contei que você não tem que fazer nada contra a sua vontade, que falar sobre si é algo que importa muito mais para você, do que para qualquer outra pessoa.

Agora, o papo é sobre quem ouve o que você tem a dizer.

Eu sei que seria muito confortador se as pessoas que a gente conhece passassem a nos entender em momentos de crises.

Mas esse processo pode exigir muito esforço e muito cuidado para não piorar as coisas, e as vezes pode não ser uma boa hora para você expor suas emoções.

Isso não significa que você nunca vai falar sobre si com as pessoas que te amam. Mas esse processo vai se desenrolando aos poucos, e pode ser deixado pra outros momentos, para quando você se sentir mais segura ou mais seguro.

Atriz Sandra Bullock, mulher adulta de pele clara, cabelos castanhos, lisos, amarrados, veste roupa social preta, diz a palavra em inglês "fine" (tudo bem)

Eu fiquei resistente por muito tempo, antes de procurar por algum grupo de apoio.

Para mim, ver outras pessoas passando por situações parecidas com as minhas, era uma forma de jogar meus problemas de saúde na minha própria cara.

Não chegou nem perto disso.

mulher adulta de cabelos castanhos claro, veste camiseta cinza e segura xícara nas mãos, inclina a cabeça para frente

Estar virtualmente junto com pessoas que tinham dúvidas bem parecidas com as minhas, me deu uma sensação de acolhimento, de pertencimento.

E me fez enxergar que, pra tudo nessa vida, tem gente.

Em alguns momentos, pode parecer que elas não existem, mas elas estão aqui, nesse mesmo planeta.

E é por isso que eu sempre digo que você não está sozinha ou sozinho. É tudo questão de se encontrar com quem te faça bem. E é mais fácil do que parece.

jovem adulta de pele clara, cabelos castanhos e lisos, veste camiseta preta e casaco roxo, coloca um telefone na orelha e faz gesto com a mão, indicando utilização do telefone

Sugestões de onde encontrar quem te entenda

PeraÍ! Não desce ainda! Isso aqui é importante!

Antes de te passar essas duas recomendações, eu não te aconselho a sair entrando em qualquer grupo de rede social que encontrar por aí.

Muito menos ir pessoalmente em alguma reunião, sem nem conhecer a organização, sem saber se é uma organização séria e organizada (sim, ficou redundante de propósito, pra você não esquecer).


Quando lidamos com as emoções das pessoas, é preciso muito cuidado para não prejudicar ninguém. E isso requer muita atenção, gerenciamento e administração do grupo.

E a gente também sabe que acidentes acontecem, alguém pode se emocionar, falar alguma coisa que te deixa mal, não gostar de alguma coisa que ouviu, enfim, muitas coisas podem acontecer.

Por isso é importante que tudo seja muito bem organizado, para que qualquer tipo de situação possa ser controlada.


Então, tome cuidado!


Dito tudo isso, vou te recomendar dois serviços gratuitos e online, que eu mesma já utilizei e gostei muito. 


mulher de cabelos castanhos veste camiseta preta sorri e faz gestos com as mãos, chamando o leitor


Não, você não precisa se expor completamente pra encontrar alguém que te escute. Vou compartilhar com você duas opções, onde você pode "desabafar" de verdade, e ninguém precisa saber como é a sua cara.


CVV - Centro de Valorização da Vida

O CVV tem opções de chat e telefone. Ambos os canais são gratuitos - sim,  por telefone também é de graça - o chat funciona todos os dias, mas em horários específicos e o atendimento por telefone funciona todos os dias, 24 horas por dia.

https://www.cvv.org.br/quero-conversar/

ABRATA - Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos

A ABRATA é voltada para portadores de depressão ou de transtorno bipolar, além de seus cuidadores, amigos ou familiares. A reunião de apoio online é gratuita e ocorre em dias e horários definidos pela associação. Também existe o atendimento por telefone, mas não cheguei a testar. O atendimento telefônico tem dias e horários de funcionamento conforme o site a seguir.

Grupo de apoio online:

https://www.abrata.org.br/eventos/

Atendimento telefônico:

https://www.abrata.org.br/atendimento-telefonico/


Eu tive experiências muito boas com esses dois serviços, espero que te ajude também!

cantora Christina Aguilera, mulher branca, olhos claros, de cabelos louros, usa vestimenta preta, está sentada em assento vermelho, manda beijos, sorri e aplaude

E aí? Já conhecia esses serviços? Eu nunca tinha ouvido falar, antes de eu mesma procurar na internet.

Quero muuuito ter te ajudado, de alguma forma. 🥰

Não para por aqui não! Manda esse post pra alguém que precisa, esse tema é muito importante. 🙌

 
Te agradeço de coração! Você acabou de levar as minhas palavras para dentro da sua cachola. E isso já me faz muita diferença!

Beijocas (me senti nostálgica agora)! Até mais! 🙋‍♀️💛

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